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[Resenha] O Céu está em todo lugar


O Céu está em todo lugar
Jandy Nelson

Lennie Walker, de dezessete anos de idade, gasta seu tempo de forma segura e feliz às sombras de sua irmã mais velha, Bailey. Mas quando Bailey morre abruptamente, Lennie é catapultada para o centro do palco de sua própria vida - e, apesar de sua inexistente história com os meninos, inesperadamente se encontra lutando para equilibrar dois. Toby era o namorado de Bailey, cujos sentimentos de tristeza Lennie também sente. Joe é o garoto novo da cidade, com um sorriso quase mágico. Um garoto a tira da tristeza, o outro se consola com ela. Mas os dois não podem colidir sem que o mundo de Lennie exploda...


"Quero que Bailey tenha essas palavras. Quero que saiba que sempre fará parte de todas as histórias, pois, assim como o céu, ela está em todo lugar."

É sempre um desafio falar sobre livros extraordinários. Aqueles livros que te devoram tanto quanto você a eles. Mas eu vou me esforçar. O Céu está em todo lugar tem uma escrita profunda, com muito sentimento, repleto de amor, dor e perda. Em vários momentos ele me pareceu ser mais um poema gigante, um poema que te conta uma história. 
"Anos atrás, estava deitada no jardim da vovó e Big perguntou o que eu estava fazendo. Disse-lhe que olhava para o céu. Ele respondeu - Essa é uma concepção errada, Lennie, é céu está em todo lugar, começa aqui aos nossos pés."
Lennie é uma garota muito sensível e talentosa. Ela tem uma percepção incrível de tudo ao seu redor e ela, talvez por ter uma alma de artista, sente tudo muito profundamente. A perda de sua irmã tem o peso do mundo em suas costas e cada palavra, as ditas e as não ditas, carregam uma dor que parece infinita. Eu vejo a Lennie como uma pessoa que acabou de sair de um acidente terrível, onde ela mesma não sofreu nem um corte, mas que mesmo assim teve sua visão sobre a vida alterada permanentemente. A morte antes, era um pensamento distante, um mero conceito e agora ela se abatia com força sobre sua casa, sobre sua cama, sobre as paredes do seu quarto e ameaça sufocá-la a cada respiração. E ela não sabe como pode sobreviver. Não entende como qualquer um pode. Ela toca seu clarinete, mas o som parece ecoar no vazio, nada parece o mesmo de antes e a falta de emoção, que ela reprime, se avoluma sob ela a cada dia. É quando ela passa a escrever.


"Sempre imaginei a música presa dentro do meu clarinete, não dentro de mim. Mas e se a música for o que escapa de um coração partido?"

Ela escreve tudo o que está sentindo. O que lembra. Conversas com a irmã. As coisas que ela disse e as que gostaria de ter dito. Ela escreve em copos descartáveis, pedaços de papel soltos, papéis de bala, carteiras, livros, troncos de árvore. Por meio do papel, ela espalha sua dor no mundo em forma de poemas, pois ela se sente incapaz de pronunciar as palavras.
"Penso em todas as coisas que não disse desde que Bailey morreu, nas palavras trancafiadas no fundo do meu coração, em nosso quarto laranja, em todas as palavras no mundo que não são ditas quando alguém morre, por serem tristes demais, iradas demais, devastadoras demais, culpadas demais para serem ditas."
Tobby, que namorava sua irmã era a única outra pessoa que parecia entendê-la, sem necessidade de se explicar, de falar. Muitas vezes, comentei com uma amiga minha que a dor dela parecia falar com a dele de uma forma que eles nunca poderiam falar. Eles se entendiam de uma forma única. De uma forma que mesmo eles não compreendiam.


"... só resta a mim mesma. Eu, como uma pequena concha com a solidão de um oceano inteiro que grita de forma invisível por dentro."

Bailey e Tobby tinham uma vida inteira juntos prontos para descobrir, prontos para viver e de repente não havia mais nada. Ao mesmo tempo Lennie tinha na irmã sua melhor amiga, elas nem sempre se entendiam, nem sempre concordavam, mas se amavam incondicionalmente. Uma das maiores frustrações de Bailey era por Lennie ser incapaz de entender o quão apaixonada, o quão profundamente ela amava Tobby. E Lennie realmente não conseguia compreender, muitas vezes ela parecia até temerosa porque Bailey apaixonada parecia completamente diferente da Bailey sua irmã. Então ela brincava sobre alguma coisa e tudo voltava a ficar bem. Mas de repente ela estava morta. E nada ficaria bem de novo.
"A tristeza é uma casa em que as cadeiras se esqueceram de como nos segurar, os espelhos de como nos refletir, as paredes de como nos conter. A tristeza é uma casa que desaparece cada vez que alguém bate à porta, uma casa que se vai com o vento à menor rajada, que se enterra no solo enquanto todos estão dormindo. A tristeza é uma casa em que ninguém pode proteger você. Em que as portas não deixam mais você entrar nem sair."
A mãe delas as abandonou ainda muito pequenas, então as duas crescem sendo criadas pela avó e o tio Big que são duas figuras extraordinárias, diferentes, engraçados e incomuns, na melhor das hipóteses. Eles tentam agir naturalmente e tentam conversar e ajudar Lennie a superar, mas ela não está pronta para isso. Ela está vivendo a perda intensamente e tudo o que ela quer é espaço e tempo, até porque, como diria o nosso querido João Verde (kk') 'a dor precisa ser sentida'. 
O Joe que é um personagem bem engraçado que vai surgir na história também é bastante engraçado e sensível e vai ajudar a Lennie. É ele que acaba convencendo-a a voltar a tocar. Tocar de verdade.
"Acabei de perceber que posso ser a autora da minha própria história, mas todo mundo também é dono da própria história e, às vezes, como agora, as histórias não se sobrepõem".
Mas eu não quero entrar em detalhes, porque eu não quero estragar a leitura de vocês - e até porque eu mesma não procurei saber muito antes de ler (vamos lá pessoal se lancem e se surpreendam também!). Eu acho que todo mundo devia ler esse livro uma vez na vida. Eu me apaixonei por ele como só me apaixonei realmente por poucos livros. E tenho que dizer: ele é especial. Te faz ter vontade de colorir o mundo com sentimentos e palavras. Te faz querer chorar e te faz sorrir também. Foi uma das minha melhores leituras, espero que seja uma das melhores leituras de vocês também <3


"Os sonhos mudam, mas não sabia que podiam se esconder dentro de uma pessoa."



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