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[Resenha] Jane Eyre


Título: Jane Eyre

Autor: Charlotte Brontë

Editora: BestBolso

Sinopse: Jane Eyre é uma menina órfã que vive com sua tia, a Sra. Reed, e seus primos, que sempre a maltratam. Até que, cansada do convívio forçado com a sobrinha de seu falecido esposo, a mulher envia Jane a um colégio para moças, onde ela cresce e se torna professora. Com o tempo, cresce nela a vontade de expandir seus horizontes. Ela põe um anúncio no jornal em busca de trabalho como governanta. O anúncio é respondido pela senhora Fairfax, e Jane parte do colégio para trabalhar em Thornfield Hall. 



Nossa, que livro! E, por Deus, quanto sofrimento! Mas lindo demais.
Ele é narrado pela própria Jane, às vezes mais parecendo uma biografia do que uma obra ficcional. A autora em certos momentos se dirige diretamente ao leitor, nos envolvendo ainda mais na trama e nos fazendo participantes ativos no enredo. Eu que já tenho um gosto por literatura clássica e linguagem rebuscada, amei a narrativa de Charlotte. É difícil ver a Jane apenas como personagem, na minha cabeça ela está tão viva quanto eu ou você que lê essa resenha, tamanha é a força da personalidade dessa personagem.
Uma coisa que a literatura nos faz, especialmente os clássicos, é nos dar a visão e os conceitos que aquele determinado personagem tem sobre a vida no todo. Ele te faz pensar, analisar e então decidir se concorda com aquela visão ou não e por quê. Foi assim que me vi em Jane Eyre.


“Ele me fez amá-lo sem nem ao menos me olhar.”


Jane, desde criança, era bastante inteligente, tinha muita presença de espírito, apesar de ser uma criança tímida e retraída, ela amava ler e aprender, por isso, apesar de jovem estava muito à frente das outras crianças. Ela, por vezes, era muito franca. Isso chocava e causava repúdio de muitos adultos da época, especialmente de sua benfeitora, uma vez que Jane era órfã. Era inimaginável que uma criança falasse com tal empáfia à um adulto, especialmente uma criança órfã, dependente da boa vontade dos outros.


“É melhor aguentar com toda paciência um castigo que só você sente do que cometer um ato cujas consequências daninhas se estenderão a todos que lhe são ligados.”


A Sra, Reed começa então a considerá-la uma criança fingida, mentirosa e má. Ela era uma mulher dura, cheia de pompa e afetação. Ou seja, ela se achava. E considerava seus filhos os próprios anjos de Deus na Terra. Mas John, filho da Sra. Reed era um menino de má índole, dado à crueldade e atos mesquinhos e sempre costumava maltratar a jovem Jane, mas a mãe sempre fingia não perceber, pois para ela, os filhos eram perfeitos. Até que Jane passa a revidar e parte para cima de John. Então a Sra. Reed começa a pensar que a menina é a verdadeira cria do demônio e depois de mais atos de crueldade com a pequena, finalmente, um médico, com pena da menina, aconselha a Sra. a mandá-la estudar fora. Mas de certa forma o mal já lhe havia sido feito, em várias ocasiões observamos a baixa estima que Jane tem por si mesma e apesar de sempre tentar se animar, ela é sempre muito racional e sempre faz questão de reafirmar a pouca importância que tem.


“A vida é curta demais para ser gasta com animosidades, só pensando nos acontecimentos ruins.”


Obviamente ela procura colocar a menina na pior escola possível, mas apesar das provações constantes que passa em Lowood, Jane também vive uma das melhores épocas de sua vida. É lá que ela recebe educação e se torna uma mulher "prendada" e bem instruída. É lá que faz sua primeira amiga, a Srta. Helen que a ensina um pouco sobre aceitar a vida que tem e não se deixar esmorecer.


“É fraqueza e tolice dizer que não suportaria algo que seu destino dita que é preciso ser suportado.”


Também faz amizade com a Srta. Temple, uma das figuras de maior autoridade entre as instrutoras da instituição, mas quando esta se casa, Jane decide que é hora de conhecer o mundo por trás daquelas paredes de pedra que a encarceraram durante tanto tempo.


“Sei que devo esconder meus sentimentos, preciso reprimir minhas esperanças, entender que ele não pode gostar de mim. Tenho, portanto, que repetir o tempo todo que estamos separados para sempre. E apesar disso, sei que, enquanto pensar e respirar, vou continuar a amá-lo.”


É assim que Jane vai parar em Thornfield, para trabalhar como preceptora. Apesar de não ser um lugar tão exótico, para quem nunca viu nada do mundo, aquele era o começo de uma grande aventura. A pobre garota órfã, agora iria começar uma vida nova. E enfrentaria outros desafios, que jamais poderia prever.


“Eu não tivera intenção de amá-lo. O leitor sabe bem que eu tentara a todo custo extirpar de dentro de mim as sementes daquele amor que nascia. E agora, ao revê-lo por um instante, elas reviviam de forma espontânea, em toda a sua força.”


Em livros clássicos, como Jane Eyre, Orgulho e Preconceito, entre muitos outros, não temos cenas picantes ou explicitas sobre o matrimônio ou as atividades conjugais, até porque para  a época isso jamais seria permitido. Mas temos tanto sentimento... As palavras, que ferem e ao mesmo tempo curam, nos arrebatam com doçura e tristeza. Amor e ressentimento. Muitas vezes eu sinto falta disso nos livros hoje, foi o que eu percebi lendo Jane Eyre. Nós temos muito sexo, mas às vezes pouco sentimento. Há uma falsa sensação de intimidade entre os casais. Às vezes um olhar é o suficiente para acalentar a alma e despertar o espírito, mas as pessoas perderam um pouco esse toque na escrita. Talvez, inclusive, na vida cotidiana. Os clássicos me lembram sempre disso, talvez por isso eu goste tanto.


“Meus olhos se voltaram para ele, sem querer. As pálpebras se erguiam por conta própria, e as íris nele se fixavam. Eu olhava e sentia um prazer agudo em olhar - um prazer raro, embora doce-amargo. Precioso, mas com uma ponta de agonia. Um prazer como o de um homem morto de sede deve sentir ao perceber que o poço até o qual se arrastou tem água envenenada, água que ele, mesmo sabendo disso, beberá de qualquer forma.”




2 comentários :

  1. Jane Eyre que inveja branca por vc ter lido, sou louca pra ler, obrigada por participar do Desafio flor!

    Daily of Books

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    1. Eu que agradeço a oportunidade, descobri maravilhas graças a ele, já tinha vontade de ler Jane Eyre há anos e ele é incrível *-*

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