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Crítica - Kurt Cobain: Montage of Heck


Kurt Cobain: Montage of Heck, dirigido por Brett Morgen e produzido pela HBO, é o primeiro documentário sobre Kurt Cobain  que cometeu suicídio no dia 5 de abril de 1994  declarado como oficial, justamente por ter como produtora executiva a sua filha, Frances Bean Cobain, e por ter sido acompanhado diretamente pela esposa, Courtney Love; além de ter sido desenvolvido com material cedido pela própria família do músico. 

Montage of Heck nos apresenta a breve vida do vocalista do Nirvana, considerado o ídolo de uma geração. Entretanto, no projeto de Morgen, o protagonista não é apenas o ícone do rock grunge, mas também um Kurt Cobain que, antes de tudo, era filho, marido, pai, ou puro e simplesmente ser humano, totalmente passível a erros.

Desenvolvido ao longo de 8 anos, o documentário é composto por vídeos caseiros pertencentes ao arquivo pessoal da família, depoimentos de pessoas próximas a Cobain – como os pais, a esposa e o amigo, e ex-baixista do Nirvana, Krist Novoselic –, músicas inéditas, bem como algumas cenas de bastidores e apresentações do início da carreira de Kurt, até o Nirvana. E, dentre as apresentações do Nirvana, destaca-se a realizada no Hollywood Rock de 1993, festival ocorrido Brasil. 



Fazendo um percurso desde a sua infância em Aberdeen, Washington, aos holofotes – que não eram cobiçados pelo músico, fato que deixava bem claro em suas entrevistas –, o documentário também conta com curtas animados e “narrados” pelo próprio cantor, tendo como base o seu vasto arquivo produzido, bem como animações dos diários escritos por ele. A partir desses diários, tenta-se compreender um pouco dos sentimentos e pensamentos de Cobain em seus escritos, que contam com pequenos relatos, anotações referentes a orçamentos das apresentações da banda, endereços de casas de shows, composições musicais e inúmeros desenhos. 

Um dos pontos interessantes na produção foi o da escolha de novos arranjos para famosas canções do Nirvana, como realizado em 
Smells like teen spirit, que, no documentário, é interpretada polifonicamente nas vozes delicadas de um coral e harmonizada por um piano, ao mesmo tempo em que cenas do videoclipe surgem na tela.


O problema de Kurt com as drogas, iniciado durante a adolescência, é tratado constantemente no documentário, e o relacionamento com Courtney Love acentua esse fato. Considerados extremamente destrutivos pela mídia da época, o casal foi observado de perto pelas autoridades judiciais após o nascimento de Frances Bean Cobain, fato que fora motivado pelos boatos de que Love estaria consumindo drogas durante a gravidez. Para alguns, Courtney fora o algoz do marido. Para outros, a fagulha para uma reação em cadeia.

Kurt amava e admirava a família que havia construído, e as declarações feitas à esposa e à filha fortalecem isso. Uma dessas declarações é apresentada no documentário: um cover inédito, feito pelo cantor em homenagem a própria filha, da música 
And I love her, dos Beatles.


Entretanto, nos vídeos caseiros produzidos no ambiente familiar dos Cobain é possível notar um Kurt cada vez mais debilitado, visivelmente frágil em razão do seu vício crescente.

Com a gama de materiais raros apresentados no documentário, Morgen produz, de certa forma, um “afunilamento” do seu público alvo, fazendo com que o longa-metragem seja voltado especialmente para os fãs. E, de fato, é um presente de 145 minutos a todos eles. Talvez para os que não conhecem muito o Nirvana – e, por conseguinte, a carreira de Kurt –, bem como o impacto provocado pelo grupo no cenário musical da época, o efeito não seja o mesmo.

A respeito dos pontos negativos, é impossível não notar ausência de depoimentos como o de Dave Grohl, ex-baterista do Nirvana e atual vocalista do Foo Fighters. Segundo o diretor, a justificativa para o corte seria a falta de disponibilidade de Grohl para gravar entrevistas durante o desenvolvimento do projeto. 


Outro ponto a ser observado é o da exploração das animações promovidas para os desenhos feitos por Kurt em seus diários. Essa exploração é chocante, num primeiro momento, por demonstrar sem escalas a mente conturbada do cantor. Entretanto, a repetição desse recurso ao longo do documentário fez com que o seu uso na montagem não fosse justificável em muitas das vezes.



Ao final do longa-metragem, assistimos a um trecho da apresentação acústica do Nirvana para o MTV: Unplugged in New York – realizado em 1993. E, pouco após o término da canção Where did you sleep last night?, há um corte brusco no vídeo para uma tela com fundo preto trazendo a informação de que o cantor tiraria a própria vida, de forma trágica, aos 27 anos de idade. O corte em questão pode ser interpretado como uma verdadeira alusão à própria vida de Kurt, sendo esta breve e interrompida de forma repentina. 

Em Montage of Heck, não há motivos em explorar o episódio da morte do artista, e Morgen demonstra isso com clareza. O foco do documentário é Kurt em sua camada mais interna e obscura, e nela observamos a sua grande paixão pela música, e mergulhamos em suas – inúmeras – inquietações e pensamentos.

O cenário escolhido para primeiro documentário oficial de Kurt Cobain não foi o de morte, mas sim o de vida. E de uma vida breve, porém eternizada. 

3 comentários :

  1. Bianca5/23/2015

    Interessantíssimo! Acabo de ler a crítica e, apesar de não conhecer muito o Nirvana e a carreira de Kurt, fiquei bastante interessada em assistir. A proposta do documentário me parece extremamente sensível e acredito que agradará e emocionará muitíssimo aos fãs (e aos não fãs, mas que assim como eu, sabem da representatividade de Kurt para a música mundial).

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    1. Olá, Bianca!
      O documentário é bem interessante pela forma como a figura de Kurt é desconstruída, permitindo que pudéssemos conhecer a pessoa por trás do músico. Vemos um ser humano falho e repleto de marcas profundas, mas que amava a família que havia construído (e as cenas dele com a filha são realmente comoventes), e também a arte, válvula de escape para os seus inúmeros pensamentos.
      Beijos e muito obrigada pelo seu comentário :)

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  2. Oii, tudo bem?

    Bem interessante mesmo, com certeza o Kurt foi uma grande perca no mundo da música, infelizmente o seu vício foi maior :(, mas muito legal esse longa, que mostra um Kurt apaixonado pela família apesar de tudo.

    Beijos da Jéss ♥
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